Talento Sozinho é Ignorância

Uma das coisas que tem o poder de me tirar do sério é discutir sobre talento. As pessoas ainda não conseguem olhar para um atleta, um empreendedor, uma pessoa bem sucedida que já vai logo minimizando a vida da pessoa com essa palavra. Chamar uma pessoa que lutou, trabalhou, dedicou grande parte de sua vida a uma causa e um aprendizado de talento é ofensa.

O grande exemplo que eu gosto de citar, quando me vejo envolto nesses assuntos é o do Oscar (isso mesmo, Oscar Schmidt) que diz que o treino, a prática e a força de vontade formaram o tripé que o levou aonde ele se encontra hoje. Isso sim comprova que talento sozinho não é nada. De que adianta ter o talento se não podemos aprimorá-lo? Serve apenas para o consolo.

Nada vem voando, caindo do céu ou é simplesmente dado de presente para nós. Se não formos atrás ninguém nos segura. Ou você acha que grandes líderes, esportistas, artistas, empreendedores e por aí vai, não viveram às custas de muito sofrimento, treinamento e privações? Por mais talentosa que a pessoa seja, ele sozinho não garante nada. Talento sem prática, sem treino, sem aperfeiçoamento, sem aprendizado, sem esforço é ignorância. Ignorância por achar que já é perfeito, já sabemos tudo e somos melhor do que qualquer um.

Existe uma teoria que diz que o mundo é feito de gênios e idiotas. O que diferencia os dois não é sorte ou talento, mas sim treino, dedicação e sacrifício. Principalmente sacrifício. Quanto maior for a disposição por se sacrificar, maior a recompensa, mais facilmente o talento se transforma em um diferencial, em dom, em recompensa. Quem sacrifica o final de semana pra estudar pro vestibular, ganha conhecimento e mais chances de conseguir atingir o objetivo; o atleta que vai na balada e não bebe, está cada vez mais próximo do recorde olímpico, o empreendedor que trabalha enquanto os outros descansam, está cada vez mais perto da inovação.

O sacrifício é proporcional ao sucesso. “A prática leva à perfeição”, como já diz o ditado. Muitas vezes ultrapassar os limites, vencer o jogo é reflexo daquele interminável minuto a mais de sacrifício no treinamento. Portanto sacrifique-se. E quando eu digo pra sacrificar, não estou falando pra se castigar, se machucar não. Estou falando pra ficar acordado mais uma hora trabalhando em seus projetos, aceitar um desafio desconhecido pra testar suas habilidades e conhecimentos, não sair do treino antes de fazer cem cestas no tiro livre.

Sacrificar não significa se penitenciar. Significa fazer mais que os outros, abrir mão de pequenas coisas a mais que os outros pra chegar na frente, ser a diferença e alcançar os resultados e os objetivos. Mas lembre-se: família, lazer e amigos não fazem parte do sacrifício. Afinal, o mesmo deve ser individual, e não coletivo. Tenha hora pro sacrifício, mas reserve uma hora no Sábado pra levar os filhos à piscina, a namorada pra dançar, ou a mãe pra almoçar. Afinal, o talento não se desenvolve apenas com o treino, o estudo e a prática, se desenvolvem na convivência, em grupos, no diálogo e na experiência.

No final das contas, tudo acaba sendo o talento. Somente quem sabe que o talento sozinho não leva a lugar algum consegue ir mais longe. Passar da teoria para a prática, esse é o grande diferencial que separa os gênios talentosos, dos idiotas talentosos.

Talento? Todo mundo tem, é commodity. O que define o time em que você vai jogar, é como você vai se sacrificar pra aprimorar o seu talento.

Nota do Editor: este é o artigo inaugural do Enrico Cardoso. Seja bem-vindo Enrico ;-)