O Fim do GeoCities

O fim do Geocities é o término de uma era. Hoje faz um mês que o Geocities – um dos maiores ícones da Internet dos anos 90 – fechou suas portas. Assim como eu, quem é um HardUser da Internet desde aquele tempo, conhece muito bem este serviço e provavelmente já teve um site hospedado por lá.

Se você não conheceu este serviço, infelizmente não conheceu aqueles tempos românticos da web 1.0, quando para se criar um site, tinha que se conhecer no mínimo HTML e alguns programas como o FrontPage e o HomeSite e ainda saber como enviar os arquivos para o servidor via algum programa de FTP. Mas calma, nem tudo o que direi aqui serão códigos e programas herméticos. Continue a ler este artigo e conheça as lições que podemos aprender com o Geocities e sua aquisição pelo Yahoo!. Sem dúvida mais um episódio que entrará para a história da Internet.

História

O Geocities – cujo nome original era Beverly Hills Internet (BHI) – foi fundado no final de 1994, por David Bohnett and John Rezner, como um Web Hosting comum. Isso foi no início da web comercial como a conhecemos hoje. A idéia do serviço era oferecer hospedagem gratuita e auxiliar os usuários para que qualquer um com o mínimo de conhecimento, pudesse criar seu próprio site. Não havia domínio próprio (e quem ligava para isso naquela época) e seu site ficava com um endereço bem longo, algo como http://www.geocities.com/MadisonAvenue/7143.

Página incial do Geocities
Página incial do Geocities

O Geocities foi uma das primeiras tentativas (e no meu ponto de vista bem-sucedida) de se criar comunidades da Internet. Os sites ficavam organizados em “bairros”. Um conceito simples e de fácil percepção pelos usuários. Você escolhia a área de seu interesse, artes, educação, negócios, cultura, ciência etc., e o Geocities definia seu bairro: Athens, Área 51, Paris, Times Square, Madison Avenue e por aí vai. Como Web Designer, meu primeiro portfólio ficou hospedado na Madison Avenue, o “bairro” dos profissionais de comunicação. Se seu site era sobre computação, provavelmente ficaria no bairro “SiliconValley”.

A proposta do Geocities foi um sucesso e o site cresceu rápido. Em 1997 o Geocities era o 5° destino mais procurado na web e já possuía mais de 1 milhão de sites hospedados. Seu modelo de negócios era baseado em conteúdo exclusivo e publicidade.

Em abril de 1998 o Geocities abriu seu capital, um pouco antes do grande boom da Internet. Em 1999 se tornou o 3° destino mais popular da web, atrás apenas de AOL e Yahoo!. E foi aí que o Yahoo! percebeu uma oportunidade de incrementar ainda mais seus serviços como portal e acabou comprando o Geocities por nada menos que 3,65 bilhões de dólares, no auge do bolha pontocom. Seus fundadores ficaram milionários.

Os Problemas

O Yahoo! tomou a decisão certa de comprar o Geocities – que agora passaria a se chamar Yahoo! Geocities – mas foi em uma péssima hora. Seu valor de mercado estava extremamente alto e com o estouro da bolha, o dinheiro virou pó.

Como se isso não bastasse, o Yahoo! começou a cometer uma série de decisões erradas, entre elas, a decisão megalômana de se tornar a porta de entrada da Internet inteira (semelhanças com a AOL são mera coincidência). Com a filosofia de controle total sobre a informação e sobre os usuários, o Yahoo! alterou seus termos de uso do serviço e estabeleceu que todo o conteúdo, imagens e arquivos hospedados eram de propriedade do portal. Não demorou para as “comunidades” protestarem e surgirem milhares de páginas condenando a decisão e criticando a política de tirania que se abateu sobre os dados dos usuários. O Yahoo! voltou atrás, mas seu relacionamento com os usuários degringolou. Logo depois ainda houveram alguns processos contra o Geocities, pois o Yahoo! dissolveu alguns “bairros” para reestruturar o serviço. Ao mesmo tempo, a Lycos comprou o AngelFire, um concorrente do Geocities que vinha ganhando força no mercado, aproveitando-se dos erros do Yahoo!.

Decisões Erradas

Como a bolha da Internet estourou, o dinheiro que haviam investido evaporou e os investidores sumiram. Os custos de manutenção dos serviços eram muito altos e nesta altura, os lucros muito baixos. Ao invés de cortar custos, decidiram limitar a taxa de transferência dos usuários. Com custos de hospedagem cada vez menores, os usuários começaram a migrar para serviços melhores, muitos deles adquirindo seus próprios domínios (meu caso). Nesse meio tempo surge o Blogger e os blogs começam a ganhar popularidade com seus sites dinâmicos. Na onda ainda vieram o WordPress e plataformas de gerenciamento de conteúdo (CMS) cada vez mais sofisticadas. O resto você já deve saber.

Pesquisa no Alexa mostrando a queda do Geocities
Pesquisa no Alexa mostrando a queda do Geocities

As Lições

  1. Não perca tempo. Se você tem uma boa idéia, execute-a agora. Os fundadores do Geocities tinham uma empresa comum de hospedagem e decidiram criar um serviço diferenciado onde qualquer um poderia criar seu próprio site.
  2. Ouça a sua comunidade. Isso significa estar atento a tudo o que falam sobre sua empresa e sua área de atuação na Internet. O Yahoo! não quis nem saber e foi logo impondo suas condições para uma comunidade já estabelecida. Se deu muito mal e jogou dinheiro fora. Não use portais de notícias apenas. Use as redes sociais – Orkut, Facebook, LinkedIN, MySpace. O Twitter é um dos melhores termômetros da Internet hoje em dia. Não crie apenas uma conta por lá. Administre-a todos os dias. Use serviços como o HootSuite e o Seesmic e acompanhe o que as pessoas dizem pesquisando por palavras-chave relacionadas ao seu negócio. Isso só vai custar o seu tempo. Leia mais blogs. Existem muitos blogs importantes onde você pode descobrir tendências que em meios comuns não descobriria.
  3. Ouse mais, inove. O Yahoo! se acomodou e apenas manteve o que tinha em mãos. Ignorou as mudanças que estavam surgindo na web. Vieram os concorrentes e as novas tecnologias e acabaram engolidos pelas mudanças. Foram orgulhosos demais. Na Internet, tamanho não é documento. Existem centenas de casos de empresas gigantes e já estabelecidas que sucumbiram diante de um “David”. Por isso não tenha medo. É melhor errar pela tentativa de acertar, do que errar por não ter feito nada.
  4. Empreenda. Se você está abrindo uma startup, mas não tem dinheiro, busque investidores. Se não tem conhecimento, busque informação. Se não tem tecnologia, adapte. Se não tem mão de obra, procure (o crowdsourcing está aí pra isso). Se não tem know how, improvise. Se não tem tempo, dedique-se mais. Conheço casos de empreendedores que criaram novos negócios nas horas vagas. O Geocities é um exemplo e o Yahoo! também.

E você, já usou os serviços do Geocities ? Deixe um comentário contando como era e onde ficava seu site ;-)

Fonte: ReadWriteWeb.