O Banco de Dados

Tempos atrás recebi uma carta de uma amiga a quem eu tinha tentado explicar que história era essa de database que eu vivia falando e ela nunca tinha entendido.

Ela acabara de receber uma mala direta de um dos seus cartões de crédito lhe dando um “presente” como reconhecimento por ser cliente deles há 7 anos. Ela pensou: “há 7 anos que eles conhecem, com luxo de detalhes, o tipo de coisas que eu compro e, bem entendido, também o que eu não compro.”

É verdade que algumas coisas não faziam muito sentido, pois eles mandaram cupons de ofertas de nada menos que 2 day spas diferentes (tipo de local onde ela nunca esteve), numa academia (“nem morta”), num bar no Ipiranga (ela mora e trabalha na Vila Madalena, um bairro coalhado de bares) e num estabelecimento que ela supôs ser um restaurante porque ofereciam uma sobremesa grátis.

Ela concluiu que o Database de Marketing do cartão era super-ultra-sofisticado, beirando a precisão de uma bola de cristal, pois conseguiu detectar que ela estava um caco, precisando demais ir à academia e ao day spa , que sua vida social estava um lixo, necessitando com urgência de uma ida a um bar (no Ipiranga), seguido de um jantar (no Jardim Paulista).

Enquanto isso, nós , profissionais de marketing direto e database marketing ficamos nos debatendo para construir, tratar, atualizar e manter os nossos bancos de dados. Chamamos estatísticos para construir modelos científicos de previsões. Testamos ações, listas, ofertas e até estimamos retornos financeiros, quando tudo isso poderia ser substituído por uma singela bola de cristal.

É o banco de dados dos meus sonhos. Eu que não acredito nas forças do além, daqui a pouco vou ter de conviver com essa maravilhosa ferramenta de marketing divinatório, ou serei obrigado a me aposentar.

Inútil dizer que os cupons não tinham qualquer identificação, o que me fez suspeitar que nunca saberiam se ela aproveitou ou não as ofertas, nem quais, a menos que ela pagasse a conta com esse cartão – o que não era obrigatório.

Estou aguardando impacientemente. Mal posso esperar o decorrer dos próximos 7 anos, ao final dos quais, ela deve receber ofertas imperdíveis de um kit de alpinismo, um CD de música tibetana e uma viagem (só de ida) ao Haiti. Afinal, em tempos de alta tecnologia, até as bolas de cristal devem ter algum tipo de upgrade nas suas versões.